Brasão Mauro de Almeida

Brasão Mauro de Almeida

 

Significado dos símbolos

 

A Cruz – É um dos símbolos mais antigos da fé cristã. Os primeiros cristãos encontraram nela o sinal visível que os identificavam como seguidores e participantes[1] no mistério de Cristo pelo batismo, fazendo assim lembrar-se do elo de pertença que aí se forma pela adesão ao reino de seu Pai. 

Na mesma, encontramos ao pé a cor vermelha, para lembrar com que entrega e amor à vontade de Deus o próprio Cristo derramou o seu sangue, não se esquivando do desafio que lhe sobreveio, pela redenção dos homens.[2]

 

As três estrelas – Nos revelam o mistério trinitário e com que forma o mesmo está presente na história de todo o homem, desde sua origem.[3] Nota-se que, a que se encontra ao meio, por conseguinte, a maior dentre as duas outras, está ligada à Cruz para nos indicar a semelhança que se deu por meio de sua encarnação com a natureza humana,[4] embora tendo conservado sua divindade;[5]  é sempre o mistério divino que se mistura à vida do homem em seu interior, com o intuito de restaurá-la. Para esse fim, faz-se mister a tomada de consciência desta realidade, que traz em si mesma o apelo percebido no anseio de cada pessoa em particular, como um chamado[6] insistente de fazer a experiência de Deus ao buscá-Lo dentro de si.[7]

 

O lado negro com a flor – O negro aqui representa as nossas trevas, nossas misérias, nossos males, o que existe de mais sombrio em nossas ações insubordinadas e que vez ou outra se revelam em alguma situação, ao longo de nossa caminhada terrestre. A flor representada em meio ao espaço negro é um Lótus. Bem conhecida na cultura oriental é encontrada como um símbolo ao lado de grandes deuses e mestres espirituais iluminados; ela nasce na lama e só se abre quando atinge a superfície, onde só então se mostra em sua beleza com suas luminosas e imaculadas pétalas auto-limpantes, isto é, tem a propriedade de repelir microorganismos e poeiras. Ela representa a pureza original, em outras palavras simboliza aqui o próprio Deus que quer ser encontrado com toda a realidade que existe dentro de nós mesmos.[8]

 

A árvore seca – Este símbolo é a representação a mais próxima no que se refere ao tempo vivido pelos (as) anciãos (ãs). É possível notar que na imagem apresentada, ainda que em pleno deserto, se pode ver em seu cimo uma folha verde, sinal da vitalidade espiritual que subsiste à fraqueza física. A esta árvore se agrupa a memória do trajeto percorrido por tantos homens e mulheres, que, buscando a solidão do deserto, encontraram aí a forma de estar em contato com a sua verdade,[9] a mais pura. Por meio deste contato, puderam fazer a verdadeira experiência de Deus ao se aceitarem em sua condição débil.[10]

Relacionado a este meio de isolamento voluntário, está a passagem do homem pelo abismo de suas próprias trevas, ou se quiser, de seus próprios vícios, como também ainda no confrontar-se com as situações de impotência frente às perdas, a doença, o medo ou qualquer que seja o momento que o ponha sob o estado ou sentimento de abandono.[11]

 

O cajado – É compreendido como o instrumento em que se apóia a fragilidade dos (as) anciãos (ãs) e, consequentemente, de qualquer ser humano cansado das lutas empreendidas.  É o sinal do consolo nas penas, um chamado à razão para saber esperar quando não mais parecemos suportar o peso de nossa jornada.[12]

 

O sol – Na cultura cristã o sol é sempre figura de Cristo,[13] sobretudo, no que se refere a sua divindade. É justamente sob esta luz[14] que ilumina e dá vida que são vividos os momentos de conflitos internos, como, as lutas diárias, com o olhar que se volta para a misericórdia de Deus e que contempla a si mesmo antes de qualquer outra criatura.[15] O sol é por assim dizer, a voz interna que nos indica a direção do verdadeiro caminho, que abre os nossos olhos para a verdadeira imagem que Deus faz de nós,[16] sem negar aquilo que compõe nossa essência, ou seja, o que de fato somos e para o qual fomos feitos, antes mesmo de virmos ao mundo.

O sol também é entendido como a fonte da sabedoria espiritual,[17] e que, ao longo do caminho, se vai adquirindo pelo experimento, com aquela atenção devida para o que o mesmo, por meio de seu clarão,[18] está a nos apontar dentro de nós mesmos, nas condições onde quer que nos encontremos, em outras palavras, com a experiência profunda que se faz como pessoa humana.[19] 

 

 

Resumo

 

In Debilitate Virtus[20] (na fraqueza, a força) – Este lema visa ressaltar o paradoxo que é constatado na existência de cada homem – realidade muitas vezes esquecida – e que envolve a verdade sobre si mesmo por meio da tomada de consciência de suas fraquezas, da potencialidade que a partir de então se gera seguida do confronto, contida na vida de toda pessoa em sua particularidade.

Para a melhor compreensão deste assunto, podemos buscar razões explicativas que se encontram inseridas no mistério da natureza; é justamente por fazermos parte da mesma natureza criada, que podemos nos enxergar dentro dela e vice-versa.

Tomemos como primeiro exemplo, a semente.[21] Ao olharmos para uma semente sabemos que ela é em potência a árvore contida em sua espécie característica, mas somos cientes de que a mesma tem que apodrecer[22] para ser manifestada a sua força. Ela é constituída como tal, e sem esse processo, aparentemente de morte, não tem como se mostrar frondosa.

Sob teor diferente, mas paralelo a esse âmbito do reino vegetal, podemos considerar um exemplo do reino mineral ao citar o diamante; ele não é nada mais que um composto de carbono em seu estado fosco, disforme e bruto – sem formosura alguma – mas, que, polida, torna-se um elemento de beleza ímpar por seu brilho extraordinário. Semelhante a isso podemos constatar no ouro a mesma realidade, quando o mesmo, por sua vez, é descoberto no solo ou nas rochas, ao se apresentar misturado a impurezas que aí se encontram.[23]

Em relação ao homem, das transformações possíveis de suas ações, há um dado todo particular de se entender o mistério que envolve a força, como por assim dizer, toda subordinada à fraqueza, e que se dá pela tomada de consciência da mesma.

Para um atleta, é imprescindível ao mesmo estar consciente de suas debilidades para só assim poder capacitá-las ao transformá-las em força no adestramento de suas impossibilidades em vista da sua própria superação, etc.[24]

Estes exemplos são aqui apresentados na esfera física de nossa realidade extra/quotidiana é claro, mas o que aqui queremos propor é a maneira pela qual podemos alcançar a força no confronto diário que procura dialogar com o que mais nos incomoda, sobretudo com as nossas fraquezas morais e espirituais, que passam de certo em primeiro lugar na tomada de consciência de nossa verdade a mais pura.[25] É por meio desta via que poderemos encontrar o ponto de partida para a verdadeira transformação que tem o seu princípio no coração (ou consciência) de cada homem.[26] 

 

 

 

*Criado na Solenidade da Ascensão do Senhor de 2011

 

Maurus                                    



[1] Cf. Mc 8, 34; 1Cor 1, 23.

[2] Cf. Col 1, 19-20; Ap 5, 1-14.

[3] Cf. Gn 1, 26a.

[4] Cf. Fl 2, 7-8.

[5] Cf. Fl 2, 6.

[6] Cf. Lv 11, 44; 19, 2; 20, 7; Mt 5, 48.

[7] “Eis que habitavas dentro de mim e eu Te procurava do lado de fora” – Santo Agostinho, Confissões 10, 8-15.

[8] Cf. Lc 17, 20-21.

[9] Cf. Eclo 6, 2-3; Ez 17, 21-23.

[10] Cf. Ez 17, 24.

[11] Cf. Sl 70, 9.

[12] Cf. Sl 70, 1; 118, 116.

[13] Cf. Lc 1, 78.

[14] Cf. Lc 2, 32.

[15] Cf. Tt 3, 5.

[16] Cf. Sb 7, 24.

[17] Cf. Sb 7, 24-26.

[18] Cf. Ez 43, 2.

[19] Cf. Jó 12, 12.

[20] Cf. 1Cor 15, 43; 2Cor 12, 9.

[21] Cf. Mc 4, 26.

[22] Cf. Jo 12, 24.

[23] Cf. Mt 13, 44.

[24] Cf. 1Cor 9, 25; 2Tm 2, 5.

[25] Cf. Jo 8, 32.

[26] Cf. Sl 94, 8; Ef 1, 18; 1Pdr 3, 4.